Eu posso viver sem você, mas não quero.
A tua pele não cola mais na minha, arranha. Você aparece sem querer e aterrissa na minha pista por ser a única alternativa de pouso. Quando me toca, pede desculpas. Quando o teu corpo se aproxima, pede licença e eu sempre te dou mais espaço do que você precisa. Existe um atrito entre nós que me faz acreditar que cada vez mais posso viver sem você, mas é a força de ação e reação exercitada entre esse atrito que me faz acreditar em nós, mesmo quando não mais acredito. E então a partida sempre fica pra depois.
Pra falar a verdade, amor, eu posso viver muito bem sem você, mas é que prefiro não acreditar totalmente nessa possibilidade e por isso ainda estou aqui, ocupando o que talvez nem deveria ocupar. Tomando o espaço vazio que talvez já não esteja reservado pra mim. Questionando o que não me diz respeito e enchendo a tua vida com cobranças absurdas e tolices antigas. Posso viver sem você, mas não quero agora. Prefiro me manter aqui, esperando que você reaja, que mude ou que esse amor que a gente usa pra justificar nossos erros nos ensine a amar. Prefiro ficar aqui, torcendo por nós mesmo quando ninguém mais torce. Te desejando mesmo quando não te quero e te querendo mesmo quando não mais te desejo. Eu posso viver sem teus braços, mas é que me falta sono feito amor em dia de despedida.
Posso
viver tranquilamente sem você, mas não quero abrir mão de tudo que
é nosso. Eu sei que agora, muita coisa deixou de ser e eu até
viveria melhor se desistisse de você antes de tudo se tornar rotina,
obrigação ou insistência. É que existe um medo de te deixar e
consequentemente me perder. Eu sei que tudo o que era nosso, agora,
parece não ser. Mas é que descer de você sem saber pra onde ir não
vai ser bom pra mim. Eu sei que já não seguro bem a tua mão, que
vivo largando você por aí, mas enlouqueço se você sumir dos meus
olhos, juro! Eu posso viver sem você, mas te jogar pro lado de fora
se transformou em um exercício diário, a resposta desse exercício
é o contrário pra te esquecer. Eu tenho um medo absurdo de falhar
no amor. De ver que tudo o que um dia tentamos guardar com muito
esmero ficou na rua dos bobos, número zero. De saber que os nossos
sorrisos, tão cheios de afeto, se perderam por aí. Que toda
dedicação por nós e que, tanto capricho, tanta graça, tanto zelo
deve haver renúncia. E então, eu não renuncio. Eu fico porque
penso que é melhor chorar com você, do que sorrir sem. Que é
melhor sofrer por você, do que por mais ninguém.
Eu
posso viver sem você, mas prefiro acreditar que esse amor não
perdeu o rumo, que eu ainda seguro o prumo, que tem muito espaço
nesse peito e nessa vida pra você preencher mesmo que você não
esteja mais disposto. E que todas as lágrimas que tenho são mais
gentis contigo. A gente não deve usar o amor pra justificar nossos
retornos depois de tantos motivos pra partir. Eu fui porque não te
quero. Voltei por pensar mais uma vez que te queria. Fiquei por
justificar nosso vai-e-vem com vestígios de um amor sem fim. A
verdade é que não existe mais vestígios entre tantas partidas e
não sei exatamente em qual momento deixei o nosso ponto final. Nos
dividimos sempre entre vírgulas solitárias, dores acentuadas e um
amor que exclama por nós. Existe um ponto final nessa história que
a gente apaga, rabisca, rasura, mas se quer, criamos coragem de
assinar nossas demissões. A gente tenta encontrar um final feliz,
mas não há finais felizes em histórias com páginas rasgadas. Eu
posso viver sem você, mas não quero assinar nenhuma escolha de ser
só, ou de deixar de ser pra você, mesmo que na verdade, deixei de
ser faz tempo.
Entre
o receio de te deixar e o medo de ser deixado primeiro eu te dou mais
um beijo, (um beijo daqueles aguados e sem gosto) em troca de tempo.
A minha partida fica pra depois, o nosso adeus também.
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