Continuou sendo amor na sua primeira mentira, e na décima segunda também. Foi amor ao tentar fazer as pazes depois de termos brigados, mas deixou de ser amor quando decidimos somente brigar e esquecemos de cuidar um do outro porque isso um dia foi importante pra nós. Foi amor quando eu me senti seguro o suficiente pra te dizer ''eu te amo'' e quando me segurei propositalmente pra não dizer no final da ligação porque você estava birrenta.
Foi amor mesmo depois de dizer ''eu te odeio'' e só te ligar no outro dia, só deixou de ser amor quando você passou a não mais me suportar, e eu esqueci que te amar me deixava em paz. Foi amor quando a gente dormia antes do filme acabar, quando você batia em meu ombro pra avisar que o filme acabou, que a hora passou e que tinha um edredom bem quente e um espaço no lado direito da cama pra mim, deixou de ser amor quando eu não tinha mais ânimo pra ficar prum filme, quando nossas noites entraram em extinção e a minha presença não tinha mais tanta importância. Como que tanto tempo se perdeu, né?
Eu queria te amar como te amei um dia, mas não posso porque simplesmente a gente não se encaixa mais. Não confio em você tanto quanto gostaria de confiar, você não me suporta tanto quanto deveria suportar. Por mais que seja difícil de admitir isso, a gente não se faz mais bem. Só em pensar que foi amor mas não fomos o suficiente pra que continuássemos juntos, e foi reciproco mas em algum momento deixou de ser, isso tudo me tira a paciência. E por mais que as lembranças me forcem a andar pra trás, não dá mais, eu não consigo mais. E eu que, um dia, achei que dividiríamos o mesmo teto, com um cachorro com nome de gente, filhos com nomes diferentes. E já passou pela cabeça que não vou encontrar alguém melhor que você e que talvez eu nem mereça, que talvez nem reconheça quando aparecer porque vou estar tão ligado à você que nem vou perceber. E me passa pela cabeça que não existe ninguém como você foi nos primeiros anos, porque o mundo tá tão estranho que nem sei se vou continuar acreditando que o amor mesmo, aquele sentimento intenso e verdadeiro, é possível acontecer mais de uma vez.
Eu não sei te explicar muito bem sobre essa distância, mas é algo como perder o interesse no outro a ponto de não se importar tanto com o que o tempo é capaz de fazer com as pessoas, mesmo que venha doer em algum momento depois, mesmo que a gente só perceba o quanto fomos burros e não nos esforçamos em manter alguém que estava disposto a nos fazer bem e nos acalmar com um simples sincero mesmo que as coisas não fossem tão bem ao longo do dia. Eu não sei definir o que acontece que faz a gente sentir saudade, mas às vezes a saudade vem pra acalmar e nos dar um tempo pra refletir o que fomos e o que fizemos pro outro. Às vezes a saudade vem pra nos confortar um pouco, - como essa carta aqui -. Às vezes ela vem pra nos dizer que é melhor só senti-la do que correr atrás de alguém que sequer está na mesma direção que nós.
Às vezes eu penso em como a gente deixou as coisas chegaram nesse ponto. Às vezes penso em você por aqui, penso em como você me fez sorrir um dia e nos últimos meses o quanto só me fez chorar. E então penso também nos tantos planos que tínhamos mas agora não restam praticamente nenhum, e penso em como eu te tocava e você se encolhia, em como eu sussurra em seu ouvido e você enrugava o rosto porque sentia cócegas com voz grave em volume baixo, e penso em voltar a enrolar os seus cabelos e no quanto você gostava de morangos no café da manhã, mas nos últimos meses você perdeu a vontade pra ficar em minhas manhãs, não tinha mais paciência quando eu tentava enrolar os meus dedos em seus cabelos e nem suportava mais os meus sussurros. Penso nas centenas de abraços diferentes que demos e acolhemos um ao outro. Penso em minha mão suada quando estava perto de você e a minha vontade insuportável de tocar os meus lábios nos seus quando estava longe de você. Eu penso também em como fazer tudo isso voltar, mas só consigo chegar a conclusão de que não adianta tentar mais uma vez, não adianta dar mais uma chance pra gente porque não vamos nos esforçar de novo, não adianta tentar outra vez porque já perdemos a conta de quantas vezes tentamos fortalecer algo que não nos faz mais bem, não adianta porque toda tolerância, todo o respeito, e paciência não existem mais e mesmo que a gente force pra que as coisas aconteçam, nada mais é tão natural, sincero e reciproco como já foi um dia. E a cada dia que passa eu te vejo sorrindo tranquila, e me vejo na obrigação de seguir e tentar sorrir sem você também. E cada noite que chega eu te vejo dormindo muito bem sem mim e então percebo que ficar mal sem você é o mesmo que me sentir mal com você, continua não valendo apena. E então só consigo pensar em como tudo isso é realmente lamentável.
2 Comentários